A renúncia de Rimbaud


O mito de Arthur Rimbaud, o enfant terrible da literatura, continua assombrando admiradores com sua renúncia às letras 

O termo Wunderkind (palavra alemã para “criança prodígio”) parece ter nascido apenas para designar o jovem poeta que foi, para muitos, o grande renovador da poesia francesa. Rimbaud, artista rebelde e iconoclasta, lançou as bases do modernismo com uma poética sinestésica e sensorial. Dono de versos feéricos – que deixavam para trás a dicção romântica e sentimental de seus antecessores (e tudo isso antes dos 20 anos!) – o jovem demônio de olhos claros, como o chamou Paul Verlaine, chocou a França do século 19 ao manter com este uma relação escandalosa para os padrões da época (sexo, ópio & poesia, equivalente ao sexo, drogas & rock ‘n’ roll do século 20). Terminou sua vida errando pelo mundo – Etiópia, Chipre – trabalhando como capataz em construções, anônimo, vivendo com amantes nativas e renegando sua juventude pregressa.

*

Tinha 42 anos quando morreu, mas deixara de escrever aos 20. Seu último livro, Iluminações, foi recentemente traduzido para o inglês pelo poeta norte-americano John Ashbery. É de Daniel Mendelsohn, da New Yorker, o artigo Rebel, Rebel, excelente introdução à vida & obra de Rimbaud, texto em que discute o mito da renúncia às letras e o caráter revolucionário da poesia rimbaudiana.

*

A figura mítica do poeta, inclusive, mereceu homenagem do inglês W. H. Auden (“Rimbaud”, dezembro de 1938):

The nights, the railway-arches, the bad sky,
His horrible companions did not know it;
But in that child the rhetorician’s lie
Burst like a pipe: the cold had made a poet.

Drinks bought him by his weak and lyric friend
His five wits systematically deranged,
To all accostumed nonsense put an end;
Till he from lyre and weakness was estranged.

Verse was a special illness of the ear;
Integrity was not enough; that seemed
The hell of childhood: he must try again.

Now, galloping through Africa, he dreamed
Of a new self, a son, an engineer,
His truth acceptable to lying men.